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Porandubas nº 559

quarta-feira, 17 de janeiro de 2018

Atualizado às 08:45

Abro a Coluna com a graça do Piauí.

Dois vereadores da Arena de Parnaíba/PI. Um, da Arena de Petrônio Portela, o outro da Arena de Alberto Silva. Inimigos políticos. Um, dentista, pôs os dentes na boca do outro. Na primeira sessão, os dois brigaram:

- V. Ex.ª é um desonesto.

- Desonesto é você, filho de uma... Devolva meu dente. Pois fui eu que pus.

- Eu paguei, seu sacana.

- E daí que pagou? Falar mal de mim, até pode. Com meu dente, não.

Partiu pra cima. E arrancou os dentes. Sem anestesia.

A nova Carta

Pois é, Luiz Inácio está encomendando a um grupo de economistas e assessores uma nova Carta aos Brasileiros, nos moldes do documento que apresentou em 2002, com a grande ajuda do amigo de então, Antônio Palocci. O objetivo é o mesmo: acalmar o mercado. Pelo menos nesse aspecto, a senadora Gleisi, presidente do PT, não blefa. A carta está sendo confeccionada e vai apontar os rumos da economia em um eventual novo governo petista. O problema é a credibilidade. Diminui sensivelmente no meio da sociedade o número daqueles que botam fé em Lula.

As margens

O discurso lulista continua a ter fortes influências nas margens. Que consideram todos os políticos iguais, com a diferença de que Lula teria lhes dado um cobertor social longo. A pior recessão da história brasileira passa longe do sistema cognitivo das massas. Ao correr da campanha, caso Lula seja confirmado candidato, é possível que parcela das margens seja induzida pela força dos círculos concêntricos, essas ondas que saem do meio, formando marolas até as margens. Ou seja, o aparato discursivo anti-PT será intensificado ao correr da campanha. E a tuba de ressonância tende a ser tocada por núcleos do centro da sociedade.

Lula na urna

Para muitos brasileiros, seria mais útil para a democracia que Lula fosse candidato. Se for impedido, circulará por bom tempo no território a ideia de que Luiz Inácio foi impedido. Uma derrota nas urnas é mais provável que eventual vitória. A considerar a hipótese de melhoria do bem-estar de vida da população, a partir do resgate da economia. Já o cenário de uma vitória do lulopetismo teria como eixo a economia em frangalhos, sob ecos do desespero social. Tudo é possível. Acompanharemos essa trajetória de perto até outubro.

A pressão em Porto Alegre

Não se justifica o estardalhaço que o PT está organizando para pressionar os juízes do TRF da 4ª Região. A democracia pressupõe o jogo dos contrários, as manifestações contra e a favor de Lula. Mas há um limite para tais manifestações. A ordem pública tem de ser mantida. A segurança da população há de ser garantida. Ameaçar juízes, como se tem feito, é um expediente de regimes autoritários. Pior, ainda, é prever "morte", "assassinatos", em caso de eventual prisão de Luiz Inácio. Foi isso que anunciou a senadora Gleisi Hoffmann, do alto de seu cargo de presidente do PT. Menos, senadora, menos.

Maquiavel

Uma de suas lições: "Um príncipe precisa usar bem a natureza do animal; deve escolher a raposa e o leão, porque o leão não tem defesa contra os laços, nem a raposa contra os lobos. Precisa, portanto, ser raposa para conhecer os laços e leão para aterrorizar os lobos." Arremata: "não é necessário ter todas as qualidades, mas é indispensável parecer tê-las."

O oposicionismo na eleição

Os candidatos classificados como de "oposição" aos atuais governantes dos Estados exibem uma extraordinária vantagem: apresentam-se como alternativa às más e péssimas administrações. Só isso lhes confere uma posição melhor. E se forem símbolos do novo, perfis não contaminados pelo vírus da velha política, aumentarão ainda mais as chances. Cofres vazios, funcionários públicos com salários atrasados, greves de polícias, assaltos em profusão deixando a população amedrontada - constituem o pano de fundo que acolherá o pleito deste ano. Mas os candidatos da oposição precisam ser confiáveis. Não serão eleitos apenas com o verbo de destruição do adversário.

O discurso político

Costumo bater nesta tecla. Muita gente se engana com a eficácia do discurso político. Pois bem, o discurso político é uma composição entre a semântica e a estética. O que muitos não sabem é que a eficácia do discurso depende 7% do conteúdo da expressão e 93% da comunicação não verbal. Esse é o resultado de pesquisas que se fazem sobre o tema desde 1960. E vejam só: das comunicações não verbais, 55% provêm de expressões faciais e 38% derivam de elementos paralinguísticos - voz, entonação, gestos, postura, etc. Ou seja, do que se diz, apenas pequena parcela é levada em consideração. O que não se diz, mas se vê, tem muito maior importância. Portanto, senhoras e senhores que encenam peças no programa eleitoral, anotem esta informação.

O perfil do empresário

O perfil do empresário moderno, arrojado e empreendedor, entra com muita naturalidade no figurino do atual pleito. É visto pelo eleitor como alguém que fez e faz sucesso, não está contaminado com o sangue da velha política, e pode, nessa condição, emprestar sua experiência para redimir o Estado, resgatando sua força. O momento do empresário é esse: se o cavalo passar encilhado à sua porta, você, empreendedor com esse perfil, monte nele. E faça boa viagem. Chegará bem a seu destino.

O estrategista na campanha

Dinheiro curto, campanha menor - proibição de doação de recursos por empresas, tempo de campanha de 90 dias nas ruas para 45 dias e de 45 dias no rádio e TV para 35 dias - sugerem a realização de uma campanha racional, focada em prioridades, concisão e precisão no discurso (propostas), intensa articulação social. Esqueçam aqueles filmetes cinematográficos, de belo efeito visual. Não haverá espaço para engodo. O marqueteiro tradicional cederá lugar ao estrategista.

Marketing resgata identidade

Graças à crise, o marketing eleitoral se reencontra com sua verdadeira identidade. Que é formada por cinco eixos; pesquisas (quanti/quali), discurso, comunicação, articulação e mobilização. Os publicitários da era de Duda Mendonça estão dando adeus. Fizeram, vale reconhecer, celebradas campanhas de publicidade - criativas, sem dúvida. Mas os tempos de hoje exigem mais condimentos, outras engrenagens. Marketing eleitoral não se resume a programas de rádio e TV. Ufa! Viva a crise.

Redes sociais

As redes sociais terão papel muito forte na campanha eleitoral. Serão muito acessadas, principalmente na esteira do tiroteio verbal que, aliás, já começou. As redes serão inundadas de fake news. A mentira, a deturpação, o engodo, a mistificação, enfim, situações tendenciosas serão massificadas. O jurídico das campanhas deve ficar atento para as notícias sobre seus candidatos. Convido, desde já, as equipes de plantão e os milhões de internautas a não se deixarem levar pela falsidade.

Feminismo exacerbado

Nos últimos tempos, têm explodido denúncias de assédio sexual envolvendo personalidades do mundo artístico. Urge saudar esses tempos de expressão feminina contra os abusos masculinos. A atriz Catherine Deneuve teve a coragem de fazer um artigo onde defende a liberdade do homem de paquerar. Foi execrada. O fato é que o mundo feminino, ao que parece, divide-se entre mulheres que defendem o feminismo exacerbado e mulheres que enxergam certo exagero nas denúncias. A situação abre muita polêmica. O bom senso haverá de prevalecer. Não se pode confundir uma paquera com assédio. Ou será que este consultor perdeu as estribeiras?

CNJ e leis inconstitucionais

Por falar em polêmica, abriu-se uma, recentemente, que tem por base a decisão do STF de permitir ao Conselho Nacional de Justiça que não aplique leis que considere inconstitucionais. A tese foi definida pelo Supremo Tribunal Federal, por unanimidade, na última sessão do Plenário de 2016, mas o acórdão só foi publicado em dezembro de 2017. A ministra Cármen Lúcia, relatora do caso, permitiu que o Conselho Nacional de Justiça reconheça inconstitucionalidade de leis ao analisar situações específicas. Em seu voto, ela disse que deixar de aplicar uma norma por entendê-la inconstitucional é diferente de declará-la inconstitucional, algo que só pode ser feito pelo Judiciário. Órgãos de controle administrativo têm o "poder implicitamente atribuído" de adotar essa prática. Cármen citou o CNJ, o Conselho Nacional do Ministério Público e o Tribunal de Contas da União.

Vitória das extremidades?

Este consultor tem refletido bastante sobre uma questão recorrente nos debates de que tem participado. Afinal, é possível termos, este ano, a vitória de alguém das extremidades do arco ideológico, Lula ou Bolsonaro? Confesso que vejo o fortalecimento de correntes que não fecham com perfis das margens. Sob essa observação, seria mais viável a vitória de um perfil que transite pelo espaço de centro-direita ou centro-esquerda. As margens não fariam maioria. Mesmo assim, coloco em ênfase a relatividade das coisas no campo da política. Ou seja, o imponderável frequenta nosso meio com certa frequência.

Reversão de expectativas

Outra questão para a qual chamo a atenção é: a renovação no Parlamento será grande? Respondo: paradoxalmente, não. Explico: menos recursos, campanhas mais curtas (de rua e de tempo de rádio e TV), favorecem quais perfis? Os já conhecidos. Ou seja, é mais provável que os atuais parlamentares, na condição de candidatos, sejam reeleitos. Em 1990, a renovação se deu por volta de 63%. Este ano, projeto uma renovação abaixo da média histórica: apenas de 40%. A conferir.

Fecho a Coluna com uma historinha do Espírito Santo.

Robô do prefeito?

Na Câmara Municipal de Mimoso do Sul (ES), Luiz Carlos da Silva, líder do MDB, discutia com Jaime da Rocha Nogueira, líder do PDS, por causa do prefeito Pedro Costa, também do PDS. Luiz Carlos atacava o líder do prefeito:

- V. Exa. é um teleguiado, sem personalidade. Só cumpre ordens.

- Sou líder. E o líder tem de dizer o que o Executivo pensa.

- Critico o comportamento de V. Exa., por ser um homem de recados, robô do prefeito.

- Senhor vereador, até agora discutia com V. Exa. porque não me sentia agredido. Agora, V. Exa. vai ter de provar a esta Casa quando é que eu roubei o prefeito.

A sessão acabou.