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O cenário para os pré-candidatos na véspera da largada e a possibilidade de decidir no 1º turno

segunda-feira, 2 de julho de 2018

Atualizado às 07:54

É razoável duvidar de pesquisas eleitorais. Mais razoável ainda é acreditar em todas. Melhor dizendo, acreditar no que todas têm em comum. Se, por exemplo, três pesquisas têm um intervalo de confiança de 95%, então a probabilidade de o dado comum entre elas estar errado é 0,05 elevado ao cubo. Ou seja, há 99% de chance de a coisa estar certa.

O que dizem todas as pesquisas? Que Lula tem perto de 30%, Bolsonaro perto de 15%, Marina, Alckmin e Ciro entre 5 e 10% e Álvaro Dias pouco menos de 5%. Os demais orbitam em torno de 1%. Sim, há as pesquisas sem Lula. Elas são hoje apenas parcialmente relevantes porque o voto lulista sem Lula não tenderá à dispersão. Se acontecer, será surpresa.

Quanto Lula transferirá a um candidato? Segundo o Datafolha, praticamente tudo, entre os que votariam com certeza e os que poderiam votar. Segundo a única pesquisa registrada que vem medindo o efeito real do apoio de Lula, a do Ipespe, um eventual candidato Haddad partiria de dois dígitos, em empate técnico com Marina na vice-liderança, atrás de Bolsonaro.

Ou seja, como já dito aqui, 1) o PT depende principalmente de si para chegar ao segundo turno. Mas, 2) precisará de uma execução excelente em pouco tempo, e muito provavelmente sob intenso fogo dos adversários e da opinião pública antipetista. Uma coisa é o potencial de transferência do voto lulista. Outra coisa é transformar esse potencial em voto na urna.

Do lado oposto, Alckmin está num patamar bastante abaixo do que historicamente um tucano tinha nesta época em eleições passadas, mas não sofre ameaça real de nenhum nome "de centro". Uma incógnita vem de Álvaro Dias, que até agora não avançou no desafio de acumular tempo de TV minimamente razoável, para ter mais chance de sobreviver após agosto.

Um problema sério de Alckmin, detectado pela mesma pesquisa Ipespe, é a pouca atração que a pré-candidatura do tucano exerce sobre eleitores de outros candidatos. É a segunda opção de pouca gente. Alckmin também 1) depende principalmente de si, mas 2) precisa de execução excelente. Precisa principalmente evitar que os partidos de seu campo desgarrem.

Bolsonaro tem mostrado resiliência, mas num patamar perigoso. Se por hipótese um terço do eleitorado decidir pelo não voto, os 15% dele seriam 23% dos votos válidos. Nesse degrau, está arriscado a sofrer uma onda "centrista" no primeiro turno. Não se deve subestimar o esforço que o establishment fará para colocar um dos dele, ou um confiável, na decisão.

Marina está posicionada para surfar nessa onda, mas precisa que as alternativas "centristas" mais palatáveis à elite naufraguem. Assim como Bolsonaro, ela não depende principalmente de si. O mesmo se dá com Ciro. Se ele não for o "candidato de Lula", precisará de uma execução insuficiente da transferência dos votos lulistas para o novo nome do PT.

As recentes eleições extras no Amazonas e Tocantins mostraram um não voto crescente, tendendo a metade do eleitorado. É pouco provável que esse patamar se repita na presidencial, mas não é absurdo imaginar, nas circunstâncias, um não voto de um terço. Num quadro assim, um candidato com 33% mais um dos votos levaria a eleição no primeiro turno. #FicaaDica.

Variáveis a monitorar:

A transferência de votos de Lula para o novo nome do PT,

2) se Bolsonaro, além de não cair, consegue mais uns pontos,

3) como ficará a repartição de tempo de TV entre Alckmin, Ciro e Dias

4) a tendência ao não voto,

5) se a economia traz alguma boa notícia para vitaminar o continuísmo e

6) a #LavaJato

Sobre a última variável, há os efeitos da #LavaJato sobre cada candidato. E há a anabolização do não voto, ou do voto em outsiders. Como o único outsider de raiz é Bolsonaro, ele seria um beneficiário certo da repulsa aos políticos e do desejo de limpar as Cavalariças de Áugias.

Precisa ver se ele tem vocação para Hércules. Pois é improvável que os adversários assistam passivamente à caminhada do capitão.