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A guerra ainda é dentro de cada bloco. E acendem-se os apetites no entorno do poder

segunda-feira, 21 de janeiro de 2019

Atualizado às 07:20

O governo Jair Bolsonaro experimenta sua curva de aprendizagem. E faz isso na velocidade das redes sociais. Está tendo de aprender rapidinho, pois - como previsto - desta vez não se percebe um "período de graça". Coisa que aliás parece mesmo ter saído de moda. Outra previsão que se realiza: o aperto da burocracia sobre o novo poder.

Em meio ao barulho, à fumaça e à gritaria da batalha, como avaliar o estado das coisas? O sinal mais útil é a consistência de cada exército. E, ao menos por enquanto, o da direita está completamente íntegro. Aliás, as disputas internas no bolsonarismo são um sintoma de não enxergar ameaças reais no horizonte.

Inclusive porque na esquerda também se nota a inclinação a aproveitar o interregno para algum ajuste de contas. A tática parece mais orientada por objetivos relacionados à busca de hegemonia no dito campo progressista, e menos por alguma vontade real de oferecer agora alternativas à maioria social e política criada em 2018.

Tudo isso é lógico. A guerra política costuma concentrar-se na disputa do poder disponível. E o poder à disposição para ser disputado hoje é o interno de cada bloco. Direita e esquerda trocam desaforos nas redes sociais, mas em cada uma a briga é pelo controle da própria tropa. "É a correlação de forças, estúpido".

Quando a delação dos executivos da JBS explodiu no colo de Michel Temer, o mercado soluçou mas logo voltou ao voo de cruzeiro. Por uma razão simples: rapidamente ficou claro que se o presidente caísse assumiria alguém parecido. As alternativas disponíveis eram só duas: um temerismo com Temer ou um sem Temer.

O que é o primeiro gabinete Bolsonaro (na suposição de que todos os governos promovem reformas ministeriais)? Um amalgamado amplo, sob a hegemonia da direita "de raiz". Agrupa o universo que deseja remover sem dó e sem medo todas as barreiras para a aceleração do capitalismo brasileiro, custe o que custar.

Daí que a principal tensão no bloco seja o recorrente "o que vão dizer da gente lá fora?", a preocupação com o impacto, no comércio exterior, da agenda sócio-ambiental e comportamental. É o mote central dos "liberais progressistas", taticamente dizimados na urna mas sempre bem posicionados para a guerra cultural.

O destino do primeiro gabinete Bolsonaro decide-se na votação da reforma da Previdência, para o que as eleições das mesas do Congresso têm importância. Entretanto, se o bolsonarismo precisar recorrer no futuro aos serviços da "velha política" para buscar a meta central, receberá o apoio de quem hoje exige dele o apego à "nova".

Daí se verá o renascer do realismo, que já aparece nas polêmicas da política externa. A vida é dura. Como conciliar a cruzada mundial pela democracia ocidental-cristã e a necessidade premente de mercados e investimentos? Na dúvida, o governo Bolsonaro tenta derrubar Nicolás Maduro enquanto a bancada do PSL faz amizade com Xi Jinping.

*

Alguma ameaça real ao bolsonarismo? Já se nota a movimentação para tutelar o presidente recém-empossado. Coisa normal nas circunstâncias. As atribulações do primogênito são um problema crescente. Ainda estão longe do pai? Já ensejam o acender dos apetites por um "bolsonarismo com Bolsonaro e sem os Bolsonaros". É bom ficar de olho.