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Não existem problemas graves endógenos na política. Eles começam a aparecer onde não se esperava

segunda-feira, 6 de maio de 2019

Atualizado às 08:12

O senso primeiro sobre o governo Bolsonaro sustentava-se em duas convicções: 1) sólidos fundamentos, massa crítica intelectual e gerencial na economia e 2) dificuldades potenciais na política, causadas principalmente pela dispersão (ainda maior) do quadro partidário-parlamentar.

Havia também a percepção, bem difundida, de que a segunda poderia atrapalhar a primeira. A "velha política" iria colocar obstáculos a uma aprovação rápida da reforma da previdência e isso poderia enervar o mercado, atrasando o necessário despertar do instinto animal empresarial.

Um semestre depois, a política vai razoavelmente conforme desejado. As espumas do noticiário podem conduzir ao erro na análise, mas a agenda previdenciária tem maioria potencial para ser aprovada com alguma tranquilidade. Depende de uma mínima execução política, muito provável.

Quem vendeu uma tramitação rápida vendeu terreno na lua, mas só é problema para quem comprou. O restrospecto das últimas reformas da previdência indica que a atual está muito dentro do prazo. Vai ser algo emagrecida mas tem imensa possibilidade de passar na Câmara, e ir com músculos ao Senado.

A economia das mudanças será crescente no tempo, então a esperança de elas induzirem a reação econômica está baseada centralmente na teoria das expectativas. O #jáestádandocerto substituiria o #temdedarcerto. E, como num balanço de parquinho, pequenos impulsos criariam um movimento amplo.

Mas o andamento do plano convive com um ruído, que parece crescente: a economia não apenas não reage, mas traz sinais de sofrimento progressivo. As previsões de crescimento do PIB descem os degraus, a confiança do consumidor idem, o desempenho da indústria decepciona. Rareiam boas notícias.

E tem o nervo exposto do desemprego. Dá a impressão de ter virado estrutural na casa de dois dígitos. E é razoável aceitar que a primeira reação do consumidor ao avanço da reforma da previdência seja de cautela. Se vai ser mais difícil se aposentar e vai ser preciso poupar, a prudência tem lógica.

Onde está então o risco? As dificuldades econômicas trazerem desalento, isso bater na popularidade do presidente e do governo, e daí a falta de base própria sólida no Congresso começar a elevar demais o custo, inclusive orçamentário, de disciplinar a maioria.

O risco que o governo corre é atolar. Se por enquanto o alarido em torno das atrações do circo mantém a plateia entretida, e a torcida mobilizada pelo seu gladiador-chefe (é o que se filtra das redes sociais), uma hora o pão vai ter de aparecer. Daí que o Planalto esteja à cata de boias econômicas.