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Guardiola vem aí

segunda-feira, 31 de março de 2014

Atualizado às 07:13

Ele não vai comandar nenhuma das 32 seleções, pode se dar o luxo de nem sequer vir ao Brasil, limitando-se a acompanhar da Europa os jogos mais importantes, mas ninguém duvide: Josep Guardiola i Sala exercerá grande influência na Copa do Mundo de 2014. O futebol de duas seleções candidatíssimas ao caneco carrega a marca, muito forte na Espanha e mais discreta na Alemanha, da visão de jogo e do trabalho deste treinador que tudo ganhou com o Barcelona e começa a tudo ganhar com o Bayern de Munique.

Há quem não goste do estilo de suas equipes, como o alemão Franz Beckenbauer, um dos maiores craques do futebol em todos os tempos, campeão do mundo como jogador, em 1974, e como técnico, em 1990, glória que apenas nosso Zagallo também alcançou na história das Copas. Presidente de honra do Bayern, Beckenbauer parece se entediar com o futebol de muitos toques que o time pratica sob as ordens de Pep Guardiola ainda mais do que na época do holandês Louis Van Gaal, como fez questão de ressaltar em recente entrevista à Sky Sports: "Provavelmente, terminaremos jogando como o Barcelona e ninguém vai querer nos ver".

O mitológico craque alemão prefere o futebol mais incisivo e variado das equipes que mesclam toques curtos, inversões e lançamentos para chegar à área adversária ou, mesmo, arriscar as finalizações de longa distância. O futebol minimalista, que prioriza a posse de bola, pode ter dado todos os títulos importantes ao Barcelona e à Espanha nos últimos anos e até ao seu Bayern nos últimos meses, mas não emociona nem convence Beckenbauer: "Quando os jogadores chegam à linha do gol, voltam a tocar a bola para trás" Depois que Guardiola criticou Schweinsteiger por ter chutado a gol em vez de passar a bola a um companheiro no 1 a 1 com o Arsenal pelas oitavas de final da Liga dos Campeões, o Kaiser chiou: "Minha concepção de futebol é outra. Se tenho a chance de arrematar de fora da área, especialmente contra uma defesa muito fechada, é o que faço".

Ex-volante mediano do Barça e da seleção espanhola, hoje reconhecido como um dos principais técnicos do mundo, Pep Guardiola não inventou o futebol de toques que marca a era mais vitoriosa da equipe catalã e transformou a Espanha em bicampeã europeia e campeã mundial. Como técnico do Barcelona, ele simplesmente deu prosseguimento ao trabalho de seus antecessores holandeses, como Frank Rijkaard, Louis van Gaal e Johan Cruyff, apurando o estilo consagrado pelos comentaristas espanhóis como tiqui-taca. Como o Barça é sua base, a seleção espanhola naturalmente importou o modelo ainda nos tempos de Luis Aragonés, reforçando-o crescentemente de lá para cá.

A equipe de Vicente del Bosque, atual campeã mundial, tem uma enorme diferença em relação ao timaço que Guardiola comandou na conquista de títulos importantes como os mundiais de clubes de 2009 e 2011, os europeus das temporadas 2008-09 e 2010-11e o tri espanhol de 2008-09, 2009-10 e 2010-11: simplesmente não conta com Lionel Messi, o supercraque que dá contundência ao futebol de toques praticado pelo Barça e espinafrado por Beckenbauer. Talvez por isso, a Espanha tenha sido campeã do mundo em 2010 com uma derrota e seis vitórias, quatro delas por 1 a 0, marcando apenas oito golzinhos em sete jogos, recorde negativo na história das Copas.

É o que entedia Beckenbauer e companhia menos ilustre pelo mundo da bola afora. Registre-se, porém, que o Barcelona azeitado por Guardiola é um time muito mais goleador do que a seleção da Espanha, tanto quanto o Bayern reverenciado por Carlos Alberto Parreira em conversa com jornalistas europeus na semana passada: "Um time que tem 81% de domínio sobre um adversário é uma coisa fabulosa, que nunca se tinha visto na história do futebol. É um time que troca mil passes no jogo, que ganhou o Campeonato Alemão com oito rodadas de antecedência. Então, tem alguma coisa diferente nesse time".

O alto índice de posse de bola, novidade no Bayern e rotina no Barcelona e na seleção espanhola dos últimos tempos, ajuda as equipes a poupar energia para gastá-la na marcação no campo de ataque e, assim, deixá-las mais perto do gol. Não é incomum que, mesmo tendo muito mais a posse da bola, tanto o Barça quanto o Bayern corram menos quilômetros durante o jogo do que os seus adversários. Quem corre é a bola, como pregavam e praticavam os craques de antigamente e, com certa ironia, fez questão de lembrar o próprio Guardiola após o Barcelona enfiar 4 a 0 no Santos e sagrar-se campeão mundial em 2011: "Tocamos a bola quantas vezes for necessário para chegar ao gol. O Barcelona passa a bola como meu pai falava que vocês, brasileiros, faziam".

Graças ao estilo de jogo mais voluntarioso deixado por Jupp Heynckes, o Bayern tem mais variações táticas, vale-se mais das bolas altas, dos dribles e até dos contra-ataques do que os espanhóis, mas também vai incorporando progressivamente o tiqui-taca do regente Guardiola. E assim, depois de ter conquistado o título mundial de clubes de 2013, sagrou-se campeão alemão na semana passada com sete rodadas de antecipação ao chegar à 19ª vitória consecutiva nos 3 a 1 sobre o Hertha Berlin. Agora, depois de empatar no sábado com o Hoffenhein por 3 a 3, prepara-se para o duplo embate com o Manchester United pelas quartas de final da Liga dos Campeões.

Em síntese, dois dos melhores times do mundo, que abrigam uma boa porção das seleções da Alemanha e da Espanha, movem-se em campo sob a inspiração deste treinador de apenas 43 anos que, mesmo não vindo ao Brasil, estará presente em muitos jogos da Copa do Mundo de 2014, talvez até na finalíssima de 13 de julho.

Pretensão

De Miguel Herrera, técnico do México, em entrevista ao site da FIFA: "Jogar um Mundial no Brasil é viajar na história - o Maracanã, os anos 1950, a lembrança de um torneio épico. É fantástico estar onde a festa do futebol impressiona, pois há jogadores muito talentosos no país. Será uma competição sensacional e o México fará uma Copa diferente, sem dúvida nenhuma. Assim como o Brasil um dia fez história no México, por que não fazermos história no Brasil?"

Bom presságio

Diferentemente do técnico, o escritor Juan Villoro, torcedor do Necaxa, que chegou ao ser o terceiro colocado no Mundial de Clubes disputado no Brasil em 2000 e hoje está na Segunda Divisão do México, não põe muita fé na seleção de seu país contra Neymar e sua turma na Copa do Mundo, segundo revelou recentemente a Sylvia Colombo, da Folha de S. Paulo: "Somos educados e sempre perdemos para os donos da casa. Foi assim na África do Sul, aí será igual".