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Porandubas nº 466

quarta-feira, 21 de outubro de 2015

Atualizado em 20 de outubro de 2015 13:44

O aperitivo inicial vem do PR.

Conversa de jardim

Manuel Ribas, interventor no PR (1932/1935), depois governador (1935/1937), despachava no palácio, mas gostava de morar em sua casa. Bem cedinho, chega um rapaz e encontra o jardineiro regando o jardim :

- Seu Ribas está ? Sou filho de um grande amigo dele. Meu pai me mandou pedir um emprego a ele. Eu podia falar com ele ?

- Poder, pode. Mas, e se ele não lhe arrumar o emprego ?

- Bem, meu pai me disse que, se ele não arranjasse o emprego, eu mandasse ele à merda.

- Olhe, rapaz, passe às quatro da tarde lá no palácio, que é a hora das audiências, e você fala com ele.

Às quatro horas, o rapaz estava lá. Deu o nome, esperou, esperou. No salão comprido, sentado atrás da mesa, o jardineiro. Ou seja, o governador. O rapaz ficou branco de surpresa.

- O que é que você quer mesmo ?

Repetiu a história. "Meu pai me mandou pedir um emprego ao senhor".

- E se eu não arranjar o emprego ?

- Então, seu Ribas, fica valendo aquela nossa conversa de hoje de manhã, lá no jardim.

Troco

De Dilma sobre Eduardo Cunha : "lamento que seja um brasileiro" (o caso das contas do presidente da Câmara na Suíça). De Cunha dando o troco : "lamento que seja com o governo brasileiro o maior escândalo de corrupção do mundo".

Turbulências

A paisagem desta semana aponta para o incremento das turbulências. E os sinais são dados por um conjunto de fatores : 1. As denúncias contra o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, agora com informações sobre montantes depositados e movimentação de contas, tornam sua situação bastante complicada. Se não tiver nenhum trunfo nas mãos, será tarefa quase impossível se manter no comando da Câmara. 2. Denúncias sobre recursos destinados ao "palestrante" Lula pela Odebrecht e também envolvendo dinheiro entregue a seu filho jogam mais fumaça no território familiar do ex-presidente. 3. Críticas do PT ao ministro Joaquim Levy, que a presidente Dilma garante que não se afastará do governo, deixam-no contrariado e expandem as especulações sobre sua saída.

A alternativa de Cunha

Restam ao deputado Eduardo Cunha as seguintes alternativas : a. Acolher o mais recente pedido de impeachment, feito pelos juristas Hélio Bicudo, Miguel Reale Júnior e Janaína Paschoal, agora contendo o argumento de "pedaladas fiscais" cometidas pelo governo Dilma em 2015. Como se sabe, Cunha sempre defendeu a tese de que as pedaladas como argumento para impeachment devem ocorrer no mandato vigente e não no mandato anterior ; b. Negar os pedidos de impeachment que estão em sua gaveta e dar por encerrada essa questão. Para as duas alternativas, quer mais tempo. Ocorre que não pode demorar muito porque o STF pode, a qualquer hora, indiciá-lo. Nessa condição, terá de renunciar à presidência da Câmara. E o Conselho de Ética da Casa se sentirá moralmente pressionado a afastá-lo da presidência. Mas Eduardo Cunha garante que não renunciará.

Portas da frente e dos fundos

A observação recorrente na esfera política é a de que a aceitação do impeachment por Eduardo Cunha lhe abriria a porta da frente para deixar a presidência da Câmara. Ou seja, mesmo deixando o comando, seria aplaudido por parcela da sociedade. Se não acolher e arquivar os pedidos, estaria saindo da presidência pela porta dos fundos. O que seria mais conveniente para ele ? Qual a decisão do Conselho de Ética ? Seu presidente garante que a tramitação do pedido de afastamento do presidente, feito por 46 parlamentares, será rápida. Cunha, porém, tem força para protelar o julgamento daquela Comissão. A conferir.

Quem, quem ?

No caso de afastamento, assumirá o vice-presidente, o deputado Waldir Maranhão, do PP do MA. Trata-se de um parlamentar desconhecido. Que, em 30 dias, organizará novas eleições. Quem tem condições e votos para assumir a presidência ? O líder Leonardo Picciani tem força para se eleger ? A mais provável hipótese é a de que lhe faltem apoios. Trata-se de um líder sem grande experiência, só recentemente alçado à condição de estrela, mesmo assim uma estrela sem brilho. Ocorre que os nomes do PMDB com experiência e história, como o deputado pernambucano Jarbas Vasconcelos, tem prestígio, mas não votos. Outros nomes cotados são : Osmar Serráglio, do PR; Lelo Coimbra, do ES; Osmar Terra, do RS; e Edinho Silva, de SP. Miro Teixeira é o mais longevo. Está agora na Rede de Sustentabilidade, de Marina. Teria cacife ?

Fogueira cresce

O ex-presidente Luis Inácio vê seu nome se aproximar do meio da fogueira. Nestes últimos dias, apareceu a informação : a Odebrecht lhe pagou R$ 4 milhões para fazer palestras. E mais : seu filho, "Lulinha", teria recebido R$ 2 milhões de Fernando Baiano. Fábio Luis está processando o Globo por esta informação. Já outro filho, Luis Claudio, teria recebido pagamento de uma das consultorias suspeitas de atuar pela MP 471. Ou é muita fofoca da mídia, como desabafa o ex-presidente, ou é informação que precisa ser investigada. Nesse ínterim, Sérgio Moro abriu a terceira ação penal contra o maior empresário brasileiro, Marcelo Odebrecht, detido há quatro meses.

Classe C

Esse analista trabalha com a hipótese de que impeachment da presidente é coisa para as calendas. No caso das pedaladas, não acredita que seja feito um julgamento que possa apeá-la do poder. Se passasse pela Câmara, não passaria pelo Senado. Já no caso do TSE, haveria recursos junto ao próprio Tribunal e, depois, a querela subiria ao STF, onde recursos e embargos levariam a questão para longe. A hipótese que poderia apressar decisões em todas as instâncias seria uma intensa e gigantesca movimentação de ruas. Que puxasse os indignados da classe C, que começam a perder os ganhos obtidos na era Lula, graças ao cobertor estendido pelos programas sociais.

VPR

Quem conversa com o vice-presidente Michel Temer distingue uma pessoa que observa os fatos, sob todos os ângulos ; ouve mais do que fala ; pondera mais do que acende discussões ; quer ajudar o governo naquilo que possível. Mostra-se disposto a usar suas habilidades de articulador para amainar situações e apaziguar espíritos.

Reeleição

Sempre que se fala em reeleição, puxa-se o exemplo dos Estados Unidos. Ora, lá, o presidente Roosevelt permaneceu por quase quatro períodos (1933-1945, vindo a falecer ao correr do último) seguidos na presidência. Quando foi escrita, a Constituição norte-americana não restringia mandatos consecutivos. Acontece que os norte-americanos se unem em tempos de crise. Depois da recessão de 1929, elegeram Roosevelt, dando-lhe, depois, mais três mandatos. Após a 2ª Guerra, restringiram a reeleição a apenas um segundo governo, na crença de que o excesso de poder dos governantes é prejudicial. E aqui surgem as diferenças.

A força do Estado

Nos Estados Unidos, o império da lei funciona. Direitos são respeitados. Aqui, nem sempre. Os tribunais fazem permanente interpretação da legislação. Mais que isso, a força da sociedade é extraordinária, agrupando associações de todos os tipos, que fiscalizam, cobram e diminuem o poder de influência do governo sobre a vida das pessoas. A pujança social é um freio a qualquer iniciativa de totalitarismo. Por aqui o Estado tem a força para expandir a sua sombra deletéria. E é nela que a reeleição se refugia, escondendo um corpo esculpido em mazelas.

Financiamento público

É ingênuo imaginar que campanha financiada com dinheiro público elimina o aporte de recursos privados e outros meios transferidos ilegalmente para candidaturas majoritárias e proporcionais. Nos EUA, que abrigam eficazes experimentos democráticos, os dois sistemas coexistem, de forma harmônica, podendo os candidatos optar por um deles após avaliarem seu potencial. John McCain preferiu o financiamento público, que lhe permitiu receber US$ 84 milhões, mas Obama, enxergando longe, rejeitou o limite imposto pela lei, objetivando maximizar o potencial da internet. Angariou cerca de US$ 600 milhões, mobilizando milhões de eleitores que agiram como doadores e cabos eleitorais. A veiculação eletrônica contribuiu de maneira significativa para diminuir a influência dos grupos de interesse que circundam a política norte-americana. Mas os lobbies dos grandes grupos - indústria de armamento, fumo, bebidas - são os grandes financiadores de candidatos.

Exercício de sedução

A presidente é o alvo de um intenso tiroteio social, não apenas midiático (como dizem Lula e outros petistas), bastando ver os míseros 8% da aprovação popular que detém. O discurso de defesa será confrontado com a realidade. A política, como exercício de sedução, será testada. Para cooptar as massas, os atores políticos, principalmente os carismáticos, costumam vestir o manto dos heróis. Lula, por exemplo. O que procura oferecer ? Esperança. Ora, mas a esperança que ele vendeu no passado foi consumida pela dura realidade desses tempos de economia em recessão. Falta grana no bolso para encher a geladeira, pagar o carro, as prestações do fogão novo. O instinto de sobrevivência e o instinto nutritivo, da lição de Pavlov, estão ameaçados. Lula, mesmo querendo parecer um "deus de plantão", poderá cair das nuvens. Subterfúgios, adjetivos, acusações fortes e promessas de um mundo melhor já não terão o efeito que causavam há 10, 15 anos.