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Idade avançada não é doença. A velhice não é numérica

O momento é de uma reflexão maior dos nossos legisladores sobre a defesa dos menos capacitados. Não se pode mais, em um mundo cuja saúde e a medicina foram totalmente alteradas, considerar alguém incapacitado pelo número de anos que viveu, mas sim pela prova de sua incapacidade.

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Atualizado em 15 de dezembro de 2010 16:44


Idade avançada não é doença. A velhice não é numérica

José Alberto Couto Maciel*

Carlos que estava sempre no auge dos programas, repentinamente começou a ficar triste, deprimido, não queria mais sair, viajar, curtir as mulheres, mas com o tempo foi chegando à conclusão que não era um problema dele, de sua idade, mas da própria sociedade, como se ela não aceitasse a idade avançada e a possibilidade dele ter a mesma vontade de vida que tinha quando jovem.

É que tantos foram os cuidados legais e regulamentares em razão de sua idade, que teve a impressão certa de que realmente precisava deles.

Quando na sala de espera do aeroporto lhe davam lugar na fila para que entrasse antes no avião, embora todos os lugares já estivessem marcados e isso não fosse necessário.

No ônibus, que leva os passageiros do avião ao aeroporto, um senhor, não tão jovem, lhe cedeu a cadeira, como se ele não pudesse ficar os cinco minutos do caminho de pé.

Chegando ao banco tinha uma fila especial para ele, sem ninguém, e o mesmo aconteceu no cinema. Já no shopping não quiseram lhe cobrar o estacionamento, cujo carro, aliás, tinha uma vaga especial no pátio.

Mas, ao invés de agradecido, Carlos teve a sensação exata que a sociedade não queria mais que ele tivesse saúde, e pensou:

- Tenho setenta e quatro anos, e trabalho mais de oito horas por dia, em negócio próprio, no qual tive o maior sucesso;

- Minha atividade física é invejável, pois faço musculação diariamente, corro, nado mil metros três vezes por semana, jogo tênis e ainda, às vezes, futebol;

- Sexualmente sinto-me tão bem como se tivesse vinte anos menos, e tenho uma frequência sexual que em nada decaiu com o tempo, sendo que a libido continua o mesmo de sempre;

- Enfim, não me sinto, por qualquer ângulo que eu veja, com limitações maiores em decorrência da minha idade. Ora, porque, então, a sociedade, através de normas regulamentares, insiste em que eu deva ser limitado, como alguém doente, ou como um deficiente físico?

Analisando a situação que está passando Carlos, em decorrência de sua idade, os pretensos benefícios que a sociedade quer lhe dar, como que dizendo não ter ele mais condições de vida saudável, embora tenha muito melhor do que outras pessoas, verificamos como essa legislação "pretenso protetora" deve ser alterada, em favor das próprias pessoas que pensa proteger.

Atualmente, setenta anos, ou setenta e cinco anos, são idades em que, dependendo dos cuidados de cada pessoa, não existe qualquer restrição física ou mental de quem lá chega.

Ao contrário, e apenas para exemplificar, um ministro de um Tribunal Superior, depois de muito julgar, alcança a maturidade naquele Tribunal quando chega aos setenta anos, e após, quando poderia conceder toda sua força de trabalho e intelectual em favor da Justiça, é enviado para casa, como alguém que já não pode mais ser mantido no cargo, certamente por uma deficiência inexistente.

Creio que o momento é de uma reflexão maior dos nossos legisladores sobre a defesa dos menos capacitados. Não se pode mais, em um mundo cuja saúde e a medicina foram totalmente alteradas, considerar alguém incapacitado pelo número de anos que viveu, mas sim pela prova de sua incapacidade.

Vamos proteger os necessitados, mas vamos incentivar os que têm uma idade avançada e saúde, para que possam dar o melhor deles nessa fase, e não considerá-los, por presunção, deficientes.

A velhice que limita não é numérica e idade avançada não é doença.

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*Sócio do escritório Advocacia Maciel



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