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A dura realidade da preparação para concursos no Brasil

Leonardo Pereira

Estamos viciados em comportamentos que nos sugam a vida à realidade.

quarta-feira, 4 de novembro de 2015

Atualizado em 3 de novembro de 2015 13:09

Pelo segundo ano seguido, candidatos que estudam para concursos públicos vivem a incerteza de não ter seu edital publicado, protelando por mais algum tempo a chance que teriam de ser aprovados. Em 2014, as questões que impediam o êxito dos planos de quem pretendia uma carreira pública foram subjugados à ocorrência da Copa do Mundo e das Eleições para Presidente. Já em 2015, após meses de incertezas, a notícia de que o orçamento de 2016 deveria ser reduzido para acomodar as contas públicas esgotou o ânimo de muitos estudantes.

Mas, fato é que quando os poucos editais são publicados (lembrando que em 2011, logo após o anúncio da ministra Miriam Belchior de corte do orçamento, mais de vinte mil vagas na esfera pública federal foram autorizadas e preenchidas), alguns candidatos são aprovados, levando à cabo seu projeto.

As perguntas que se fazem então são: quem são tais pessoas que foram aprovadas em meio às incertezas econômicas do governo? Como será que tais candidatos fizeram para ser aprovados em tão curto espaço de tempo? Por qual curso terão se preparado ou que livros leram para entender o que as bancas examinadoras pediram?

Esse é o problema. Estamos sempre em busca de respostas na terceira pessoa, jamais olhando para dentro de nós, ocultando em nossos subconscientes altamente conscientes a dura realidade de que o problema se passa com o nosso compromisso, com a nossa devoção aos projetos que nos são mais caros.

Estamos viciados em comportamentos que nos sugam a vida à realidade, dedicando-nos mais às interações digitais do que às devoções carnais. Na fácil vida que a internet nos proporciona, temos uma cara feliz, a foto de uma casa maravilhosa para a qual damos um "like" e o compartilhamento de uma promoção de um pacote de viagens para um lugar dos sonhos. Mas efetivamente, estamos nada vinculados a cada uma dessas situações. Os mais resistentes, estão passando por tais ciclos de comportamento na doce ignorância que só a subcultura pode manter a inconsciência, ao passo que os de alguma razão, chegam aos consultórios médicos com algum grau de desamparo emocional, para não falar deprimidos mesmo.

Essa ausência de realidade, essa fuga que nos permitimos sem policiamento, também responde pela nossa absoluta irresponsabilidade com nós mesmos, com nossos propósitos reais, aqui da vida comum que amanhece todos os dias. Viver é muito bom, mas dá um certo trabalho, meus caros. Exige dedicação, comprometimento, devoção, educação.

E quando, a cada novo pequeno tropeço da vida, permitimo-nos uma pequena fuga, vamos nos acostumando sempre a uma nova ausência, que nos ampara e nos conforta, que permite que sempre mantenhamos um falso patamar de felicidade, de estabilidade.

E encarar o desafio de se preparar para concursos públicos não é diferente. É preciso aceitar uma dura realidade que encontra forças nas divergências econômicas, substituição de bancas examinadoras, elevação do número de candidatos inscritos, protelação da autorização de novas vagas, autorização expirada de concurso. Essa é a vida de quem se prepara para uma vaga pública.

E quanto às perguntas em aberto, que tal respondermos juntos, sem melindres e aceitando nossos erros, que são pessoas normais daquele grupo que não desistiu, que soube organizar seus estudos de modo a passar pelos períodos difíceis com serenidade, com algum grau de certeza que os permitiu ganhar força nos estudos quando perceberam que o número de candidatos qualificados estava diminuindo, que souberam avaliar as críticas a um governo dito hiper inchado em número de funcionários públicos com conhecimento para rebater que muitas das funções públicas ainda não foram preenchidas. Quem sabe até agradecidos por terem visto que manter a condição de alienação não os levaria a nenhum lugar melhor que o mundo paralelo no qual viviam... vai saber se hoje, olhando para trás, não se culpam pelo tempo que perderam.

Mas, para mudar essa realidade em que muitos estão, entendo importante a percepção da consciência para então lutar contra si mesmo. Essa é a atitude na qual acredito para a efetiva atitude no comportamento dos milhares de candidatos que se frustram diante das normalidades da vida de um funcionário público.

Bons estudos!

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*Leonardo Pereira é diretor acadêmico do IOB Concursos.

IBTP - INSTITUTO BRASILEIRO DE TREINAMENTO PROGRAMADO S.A.

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