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Tributo às mães, Eudes Quintino

Tributo às mães

A mãe, aquela que sempre serviu de biombo protetor, brota no pensamento como um caleidoscópio por onde cores de todos os matizes e afetos de múltiplas intensidades circulam com os mais efusivos espíritos de paz, acompanhados de abraços afetuosos.

domingo, 14 de maio de 2017

Atualizado em 12 de maio de 2017 10:53

A data comemorativa ao dia das mães é festiva por si mesma, pelo próprio significado que a encerra. Tudo cabe nesta fala de coração aberto, por onde passam palavras copiosas e frases abundantes. E isto faz muito bem aos filhos. De quando em quando o homem tem que se debruçar no mais recôndito de seu interior, buscar as raízes plantadas no seu jardim mais secreto e fazer a releitura de seus valores, das pessoas que lhe são caras e dispor as palavras, há muito adormecidas, nos seus devidos lugares, aquelas que encerram indizíveis verdades e estão cravadas na consciência de cada um, ali repousando como se cumprissem o ritual do sono dos justos e dizer todas as frases que quiser, sem se preocupar em colocar o inevitável ponto final.

A mãe, aquela que sempre serviu de biombo protetor, brota no pensamento como um caleidoscópio por onde cores de todos os matizes e afetos de múltiplas intensidades circulam com os mais efusivos espíritos de paz, acompanhados de abraços afetuosos. É quando o filho, ao mesmo tempo em que agradece, venera.

Nada mais é do que o ato de ressuscitar a potencialidade do espírito de cada um e reconhecer que aquela, muitas vezes com estrutura franzina, corpo nanico, se transforma num repente na gigantesca figura de uma protetora destemida e imbatível, não só aconselhando como também tutelando a prole que saiu do seu seio e hoje frequenta o espaço virtual e, no linguajar da atualidade, ela projeta custos e benefícios contabilizados em afetos.

Não é buscar espaço para franquear os limites da fantasia, tão imprópria neste tema, nem mesmo fazer valer sedutores apelos e sim promover um mutirão interno de agradecimento e ecoar a voz sensata, mesmo desprovida de arroubos retóricos, para entoar desde o majestoso Te Deum Laudamus Te, até a canção de ninar mais singela, em homenagem àquela que lhe conferiu a vida. Ou ainda, em tempos de delação premiada, confessar publicamente seu respeito, sua consideração e eterna gratidão.

Para ilustrar a maternidade em toda sua extensão, cabe aqui recordar o episódio ocorrido há pouco tempo em uma cidade do Paraná.

Uma mulher, com 21 anos, grávida de gêmeos, sofreu uma grave hemorragia cerebral. Levada ao hospital, apesar dos esforços médicos, o quadro evoluiu para pior e, três dias após a internação, foi decretada sua morte encefálica. A gestação iniciava o segundo mês e a equipe médica decidiu mantê-la biologicamente viva para que os embriões pudessem se desenvolver. Um verdadeiro aparato médico envolvendo também enfermeiros, fisioterapeutas e nutricionistas monitoraram 24h a gestação artificial. Todos os cuidados dispensados foram no sentido de manter a mãe como se viva fosse para que pudesse exercer com sucesso a função de incubadora viva. Os bebês se confortaram na silenciosa clausura e nasceram pouco antes de completar sete meses, com saúde compatível com os prematuros desta idade.

Desta forma, como por ironia, habitaram o mesmo corpo da mãe, a vida e a morte e, fora dele, receptores aguardavam a doação de órgãos.

Faz lembrar os versos do poeta Renato Castelo Branco, no poema Imortalidade: "Posso partir, porque já semeei minhas sementes. Podes plantar meu corpo no ventre do mundo".

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*Eudes Quintino de Oliveira Júnior é promotor de Justiça aposentado, mestre em Direito Público, pós-doutorado em Ciências da Saúde. Advogado e reitor da Unorp.



 

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