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Massacre

Rebelião da Ilha Anchieta marcou história prisional do Brasil por brutalidade

Em 1952, detentos dominaram a guarda e fugiram armados para o litoral após uma brutal batalha.

Da Redação

quarta-feira, 4 de janeiro de 2017

Atualizado às 07:17

Junho de 1952. Centenas de presos amotinados iniciam uma violenta rebelião no presídio da Ilha Anchieta, no litoral norte de SP, nas proximidades de Ubatuba, com o objetivo de atacar os policiais e tomar as instalações e armas que ficavam no quartel do Morro do Papagaio. Eles dominaram a guarda e fugiram armados para o litoral após uma brutal batalha.

"Gravíssima ocorrência no presídio da Ilha Anchieta", estampava a manchete do jornal O Estado de S. Paulo no dia 21. O levante, encabeçado por detentos de alta periculosidade, como Álvaro da Conceição Carvalho Farto, o Portuga, e João Pereira Lima, o Pernambuco, durou 16 horas, terminou com dezenas de mortos e algumas centenas de feridos.

De acordo com a Associação Pró-Resgate Histórico da Ilha Anchieta e dos Filhos da Ilha, o número de mortos passou de 100.

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(O Estado de S. Paulo - Edições dos dias 21 e 22 de Junho de 1952)
(
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Histórico

O presídio da Ilha Anchieta começou a ser construído em 1902, após a desapropriação de cerca de 412 famílias de colonos e caiçaras que habitavam o local. Desativada em 1914, a instituição voltou ao funcionamento em meados da década de 1930, com o intuito de abrigar presos políticos da Era Vargas.

Pouco tempo depois, a ilha, que se chamava na época Ilha dos Porcos, foi rebatizada como Ilha Anchieta em homenagem ao jesuíta. No ano de 1942, com aproximadamente 273 detentos, a Colônia Penal passa a ser denominada Instituto Correcional da Ilha Anchieta.


(Imagens atuais das ruínas do presídio)

Conflito

À época, com uma população carcerária de aproximadamente 450 detentos, a animosidade tomava conta do lugar devido à convivência conflituosa de dois grupos rivais. Um dos principais líderes dos presos era João Pereira Lima, o Pernambuco. Com a posterior chegada no local de Portuga, Álvaro da Conceição Carvalho Farto, uma nova movimentação começou a ocorrer, criando-se uma espécie de organização entre os detentos.

De acordo com registros do portal oficial da Ilha Anchieta, a intenção era arquitetar um plano para a rebelião. Os detentos assumiram uma postura cordial e gentil, gerando uma aproximação com policiais e com a população da ilha, num clima de confiança que, na verdade, era o preparatório para o golpe.

Conforme registros da época do jornal Folha de S.Paulo, distribuídos no campo para as tarefas diárias, os presos assaltaram os guardas, tomaram-lhe as armas e os dominaram. Os amotinados conseguiram lanchas e outros barcos e abandonaram a ilha, rumo, principalmente, às praias de Ubatuba e Caraguatatuba.

Quando lá chegaram, entretanto, não conseguiram desembarcar, pois eram aguardados pelos delegados de polícia das duas cidades, auxiliados por alguns poucos soldados. Após intensa troca de tiros, as autoridades conseguiram encurralar os fugitivos na enseada entre Ubatuba e Caraguatatuba.

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(Revista Manchete - 5 de Julho de 1952)
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Rebeliões

A rebelião de 1952, entretanto, não foi a primeira da história do presídio. Em 1933, cerca de 100 detentos chegaram a depredar o prédio e tomar o controle da guarda. A polícia, porém, conseguiu controlar a situação e não houve mortos.

Outros fins

O presídio foi oficialmente extinto em 1955 e os detentos transferidos para Taubaté. Em março de 1977, o governo do Estado criou no local o Parque Estadual da Ilha Anchieta, hoje administrado pela Fundação Florestal.

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(O Estado de S. Paulo - Edições dos dias 1 de Setembro de 1955 e 29 de Março de 1977)
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